Cada macaco no seu galho!
Saúde Mental do Trabalhador e a importância da especialidade no tratamento do estresse ocupacional.
Quem já participou das minhas palestras sobre saúde mental no trabalho com certeza já me ouviu usar a expressão “Cada macaco no seu galho!” Sou uma ferrenha defensora da especialidade, principalmente quando se trata de saúde mental no trabalho e do trabalhador. Na verdade, todos deveriam ser, afinal você sabe muito bem quem procurar quando tem dor de dente, não é? Ou arriscaria colocar sua preciosa boquinha nas mãos de um outro profissional que não fosse um bom dentista?
Pois é. Mas quando o assunto é sofrimento emocional, tem muita gente que não procura um especialista. Se a questão é ligada ao trabalho então! Aí que complica um pouco mais!
Eu sei, eu sei…os motivos são os mais diversos, mas este mérito ficará para um outro texto.
No último sábado, participei do XI Congresso Internacional de Psicologia Clínica de Granada, na Espanha. A convite da Prof. Dra Liliana Guimarães, tive a honra de compor a única mesa que debateu as questões relacionadas à Saúde Mental do Trabalhador.
Apresentamos questões relacionadas aos fatores de riscos psicossociais, fatores de proteção e o tratamento do estresse ocupacional, que foi o meu tema.
Pude confirmar que esses são temas pouco explorados pelos psicólogos clínicos em geral, não só no Brasil.
Interessante observar o quanto muita gente ainda não considera que a especialidade nas questões relacionadas à saúde mental pode ser um determinante no diagnóstico e tratamento para alguns quadros psicopatológicos.
Qual a importância disso para as empresas?
Muitos funcionários demoram demais para buscar ajuda, quando o tema é saúde mental, o que é um grave problema nas empresas. E ao fazerem o tratamento com profissionais que não são especialistas o risco do afastamento do trabalho se torna maior, por não ter boa evolução.
Alguns profissionais irão rebater afirmando isso não ser necessário. Me perdoem, mas, particularmente tenho certeza que algumas psicopatologias pedem especialidade para serem corretamente diagnosticadas e tratadas. Dependência química, transtornos alimentares, transtorno de déficit de atenção e hiperatividade, são algumas onde a especialidade é determinante para um bom diagnóstico, eficácia e efetividade do tratamento. Quadros como transtorno do pânico e outros transtornos de ansiedade, também fazem muita diferença. Já para a depressão, não é tão determinante. Um bom profissional dá conta do recado.
E quando falamos de estresse ocupacional, a especialidade vai fazer toda a diferença. Tratar de estresse ocupacional não é tratar somente dos sintomas de estresse gerados por “dificuldades” no trabalho, como se fosse só mais alguma questão do paciente, assim como problemas de relacionamento, dificuldades com os filhos ou o estresse devido a alguma doença na família.
O que é o estresse ocupacional (EO) ? Segundo Limongi França (1999), o estresse ocupacional é decorrente de situações em que a pessoa percebe seu ambiente de trabalho como ameaçador às suas necessidades de realização pessoal e profissional e/ou à sua saúde física ou mental, prejudicando a interação desta com o trabalho e com o ambiente de trabalho, à medida em que este ambiente contém demandas excessivas à ela, ou que ela não contém recursos adequados para enfrentar tais situações.
Segundo os autores, Mota et al., 2008, Laranjeira (2009), o EO pode afetar qualquer pessoa, em qualquer nível hierárquico e ocorre em qualquer setor, independentemente da dimensão da organização.
Ou seja, apesar de muitos gestores acharem que não, o EO, bem como o adoecimento mental, é altamente democrático. Qualquer trabalhador em qualquer nível está sujeito a vivenciar e adoecer física e mentalmente devido ao alto grau de estresse no trabalho.
É fato que as pessoas, por suas características particulares, adoecem em tempos e formas diferentes. É exatamente por isso, que algumas pessoas “suportam” o estresse no trabalho por um período mais longo, mesmo quando muito intenso. Mas posso garantir que não sem prejuízos físicos, emocionais ou sociais, decorrentes deste esforço.
O ambiente de trabalho e a clínica psicológica
Ao longo de quase 20 anos de atuação com redes de tratamento em saúde mental do trabalhador posso afirmar o seguinte:
• Questões relacionadas ao trabalho ainda são pouco exploradas por psicólogos clínicos, mesmo quando são queixa de seu paciente;
• Os psicólogos não realizam uma anamnese que inclua aspectos ocupacionais. Em geral só tem conhecimento do cargo de seu paciente, mas sem explorar como é seu dia a dia de trabalho, as exigências, responsabilidades, se histórico profissional e seus anseios; como se dá sua autonomia x suas demandas e o quanto se sente reconhecido e recompensado pela sua dedicação e empenho;
• Para o profissional que está vivenciando o estresse ocupacional, falta clareza sobre a origem do estresse, e isso pode ser explicado pelos mais diversos motivos, sendo um deles a vergonha em não conseguir dar conta das exigências às quais está submetido. Daí cabe ao psicólogo ajudá-lo na identificação desse nexo e formas de lidar com o estresse ocupacional;
• Com relação aos médicos psiquiatras, muitos não identificam, entre outras questões de igual importância, qual é o turno do trabalhador ao prescreverem medicamentos, o que é um sério problema – o psicólogo pode auxiliar o psiquiatra e o trabalhador com orientações em relação a estas questões;
• As empresas abrem pouco espaço de troca com sua rede credenciada para discussão dos casos em tratamento – essa interface é fundamental, pois todos ganham com isso! Trabalhador, profissional e empresa.
Essas e outras questões, levaram a mim e a Dra Débora Glina a elaborar e testar o Protocolo de Intervenção Individual de Estresse Ocupacional, cujo teor apresentei no Congresso da Granada.
O referencial teóricos utilizado está pautado no que de mais atual existe sobre o tema em Work Stress, incluindo as técnicas e procedimentos cognitivos comportamentais, treino de Inoculação de Estresse de Meichenbaum, que passa por todo uma questão de prevenção, atuando como um anticorpo psicológico entre outras técnicas integrativas, como o Mindfulness.
O objetivo central é identificar e lidar melhor com o estresse no trabalho e seus estressores.
Pode ser aplicado em 12 semanas de atendimento com uma estrutura não rígida, em que o profissional deve avaliar o momento de utilizar as ferramentas e técnicas indicadas.
Estressores extra laborais, apesar de não serem alvo do protocolo, não são ignorados, principalmente considerando o fato de que o estresse ocupacional pode ocasionar problemas familiares e em outras esferas da vida do indivíduo.
Os resultados que o protocolo tem nos oferecido só reforçam que estamos no caminho certo ao defender a especialidade em nossa área!
Quer conhecer mais sobre este trabalho? Teremos o maior prazer em conversar com você e sua empresa a respeito!