Os homens no mês do Agosto Lilás

Neste mês de conscientização e enfrentamento à violência contra a mulher, conhecido como Agosto Lilás, em homenagem à criação da Lei Maria da Penha, fica evidente que ainda é preciso muito empenho para fazer valer cada direito.  

A violência baseada no gênero é um problema social que afeta inúmeras pessoas em todo o mundo. E esta é a razão pela qual a agenda de Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, conhecida como ODS 5: Igualdade de gênero, contempla esse assunto entre os 17 objetivos na Agenda 2030 da ONU.  

  

No Brasil, a esmagadora maioria dos casos envolvendo agressões contra as mulheres está tipificada como violência doméstica. E de acordo com a 4ª edição do Relatório do Fórum de Segurança Pública e Instituto de Pesquisas Datafolha (2023), cerca de 5.962 brasileiras sofreram violência diariamente no ano passado. Isso equivale a um estádio de futebol lotado por dia.

Além disso, o relatório revela que 33,4% das mulheres brasileiras viveram algum tipo de violência física ou sexual, provocada pelo parceiro íntimo ao longo da vida, e que 24,5% delas afirmaram ter sofrido agressões físicas como tapa, batida e chute. 21,1% das brasileiras também foram forçadas a manter relações sexuais contra a sua vontade e 43% disseram ter sofrido violência psicológica, como humilhações, xingamentos e insultos de forma reiterada.  

  

A raiz da violência, com base no gênero, está estruturada nas desigualdades de valor social entre os homens e mulheres, bem como nas concepções equivocadas sobre masculinidade e feminilidade. E pode se manifestar de várias formas, incluindo:  

  

– A desvalorização da mulher e o descrédito em suas palavras;  

– O enfraquecimento da sua representação civil, jurídica e política;

– A importunação sexual, estupro, assédio moral e físico;  

– Salários e jornadas de trabalho desiguais, e

– Violências físicas que podem se apresentar de inúmeras formas.      

É importante que os homens reconheçam sua responsabilidade e participem desse processo de mudança, fazendo uma reflexão crítica sobre os papéis sociais e normas de masculinidade que contribuem para a perpetuação dessa violência.    

Além disso, seria importantíssimo que homens e mulheres se tornassem aliados ativos no enfrentamento à misoginia e ao sexismo, trabalhando lado a lado por uma cultura de paz e equidade.     

A educação e a conscientização desempenham um papel fundamental na transformação cultural e pode corrigir essa distorção histórica quando todos forem educados na família e na escola sobre os conceitos de consentimento, respeito, igualdade e os impactos negativos da violência de gênero.  

   

Vamos fortalecer o engajamento de modelos positivos de homens, abandonando as imagens de agressividade ou “líder nato e detentor do poder e saber”, para incentivar a ideia de homens mais respeitosos, que saibam dialogar e promover a inclusão, tanto em suas vidas pessoais, quanto profissionais.   

No cotidiano, a mudança acontece quando o gênero não é o ponto central para as divisões de atividades e responsabilidades sociais, onde os homens tenham a responsabilidade de compartilhar de forma equilibrada as tarefas domésticas, ensinando aos seus filhos que a cultura do cuidado é de todos, e é necessário ter sempre solidariedade para defender uma mulher em situação de violência.

  

Como os homens ocupam a maioria dos cargos de liderança nas empresas, é preciso que as organizações também se engajem nesta causa para que possamos juntos alcançar uma sociedade mais humana e próspera. E um dos caminhos para isso pode ser a implantação de um programa de Equidade e Diversidade, como forma de apoiar o plano de carreira dessas mulheres.

Por Beatriz Pakrauskas, assistente social no Núcleo de Enfrentamento à Violência (NEV) da Mental Clean