Saúde Mental da Mulher: uma prioridade ao alcance de todas

O ano pode ser 2022, o mês pode ser o da Mulher, mas a sensação que se tem é de que ainda estamos lá atrás, por volta do século XX, em termos de desigualdade de gênero, acúmulo de tarefas e adoecimento mental feminino.

Durante a pandemia, um estudo do Instituto de Psiquiatria (IPq) do Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), realizado entre os meses de maio e junho de 2020, mostrou que as mulheres são as mais afetadas pelos problemas de Saúde Mental: 40,5% delas possuem sintomas de Depressão, 34,9% de Ansiedade e 37,3% de estresse.

Portanto, de acordo com a literatura médica, as mulheres ainda são as que mais sofrem com os impactos, agravados pela pandemia, devido as suas condições sociais, que já eram precárias antes mesmo da Covid-19 aparecer.

No caso de São Paulo, uma amostra divulgada recentemente pela Rede Nossa São Paulo, em parceria com o Inteligência em Pesquisa e Consultoria (Ipec), conclui que estamos regredindo na desigualdade de papéis, ao ponto da violência doméstica estar aumentando e a responsabilidade nas tarefas do lar continuarem sendo de total responsabilidade das mulheres.

Ou seja, somente 37% dos entrevistados acham que as tarefas domésticas devem ser divididas igualmente entre homens e mulheres, diferente de 2021, em que esse índice era de 47%. Para 34%, embora a responsabilidade seja de ambos os gêneros, é a mulher quem faz a maior parte das atividades domésticas nos lares paulistanos (em 2021, eram 28%).

Somado a esse cenário, o IPq confirma que os motivos que levam ao aumento do adoecimento mental feminino passam pela: tripla jornada (casa, trabalho e filhos), incluindo o acompanhamento do desenvolvimento escolar dos filhos, e à própria pandemia, que fez com que as pessoas permaneceram mais tempo dentro de casa, preocupadas com os cuidados para evitar a contaminação (como as necessidades de mudanças nos hábitos de higiene, redução do convívio social, familiares adoecidos, entre outros).

Detalhe: esse sofrimento psíquico também atinge as mulheres que moram sozinhas e não têm filhos. Segundo o estudo do IPq, os níveis mais elevados de estresse, depressão e ansiedade podem estar associados a outras variáveis como: muitas delas estão desempregadas, possuem histórico de doenças crônicas (25,9%) e relatam ter tido contato com pessoas com diagnóstico de Covid-19 (35,2%).

É por isso que no Mês da Mulher ainda precisamos reforçar o quanto é importante o cuidado com a Saúde Mental, por uma série de fatores externos e internos, capazes de provocar esses adoecimentos.

É claro que a desigualdade de papéis é um problema crônico, enraizado, que depende de outros fatores ligados às políticas públicas, educação e conscientização. Mas, independente dessas questões, cabe a cada mulher o seu autocuidado e a responsabilidade de saber que tem coisas que somente você pode fazer por si mesma.

Como? Você pode se perguntar. Com pequenas atitudes e gestos de carinhos diários, somadas a necessidade de dizer mais “não”, principalmente para os relacionamentos tóxicos ou abusivos, e à certeza de que você não está sozinha nessa luta e que pode buscar por ajuda não só entre as suas redes de amigos ou familiares, mas também de profissionais da psicoterapia.

Além disso, procure se permitir sentir-se cansada, com raiva, ansiosa, medo ou tristeza, já que todos esses sentimentos fazem parte da vida. Afinal, você tem todo o direito de errar, recomeçar ou fazer as coisas no seu tempo, sem culpas ou cobranças.

Evite apenas que essas emoções se tornem frequentes, ao ponto de interferirem na sua rotina. Mas se mesmo assim isso acontecer, procure parar e identificar essas emoções para acolhê-las antes de se tornarem as causas de um futuro adoecimento emocional.

A Saúde Emocional da Mulher é um desafio possível e está ao alcance de todas nós. Lembre-se disso e priorize-se mais daqui para frente!