Como reduzir a ansiedade diante das expectativas familiares
A autocobrança exagerada para atingir metas e as próprias expectativas pode ser problemática para a saúde mental do trabalhador, mas pode ser evitada com o tempo.
E quando essa expectativa vem das pessoas mais próximas, dentro da sua casa, da sua família? Como lidar com essa expectativa?
Essa é uma situação que quase todo mundo já viveu, independente da situação de vida de cada um, há sempre aquele familiar que costuma depositar suas expectativas pessoais em você.
Se perceber, esse desejo alheio acaba gerando uma ansiedade para que você seja capaz de atingir essas metas, que somado a cobrança natural do trabalho em si, pode elevar o estresse diário e comprometer a sua saúde mental.
Um estudo qualitativo realizado em 2024 pela Revista Ibero-Americana de Humanidades, Ciências e Educação investigou como a ansiedade no contexto familiar pode desencadear transtornos mentais como ansiedade generalizada, depressão e transtorno de estresse pós-traumático (TEPT).
Os autores Miriam Ribeiro Souza, Francisco Mendonça e Hélio Marco Junior, da Faculdade Mauá, identificaram em seu estudo que dinâmicas familiares disfuncionais, como comunicação inadequada e falta de apoio emocional, são fatores perpetuadores da ansiedade.
Em agosto de 2023, a revista TIME publicou um levantamento sobre a relação entre a saúde mental dos pais e o bem-estar emocional dos filhos, revelando que cerca de um terço dos jovens afirmaram ter pais que sofrem de ansiedade ou depressão, sendo que 15% dos jovens entrevistados também relataram apresentar sintomas de ansiedade.
Em todas as famílias, a saúde mental pode ser afetada pela falta de uma comunicação adequada e por não haver um esclarecimento de que as pessoas não são responsáveis por atender as expectativas das outras.
Se um membro da família segue tentando atender as expectativas de outros familiares, com o tempo a pessoa pode sofrer com ansiedade e estresse e até perpetuar esse sentimento aos demais membros da família.
Pesquisas da American Psychological Association (APA, 2019) indicam que uma comunicação aberta e transparente com a família contribui diretamente para a redução da ansiedade e de sintomas de estresse, pois permite o ajuste realista de expectativas e evita sobrecarga emocional decorrente de cobranças baseadas em percepções equivocadas sobre o comportamento e as capacidades do indivíduo.
Para auxiliar nessa missão, há algumas intervenções familiares eficazes que podem ser úteis que utilizam como base a Teoria Sistêmica Familiar, desenvolvida por autores como Murray Bowen e posteriormente ampliada por outros teóricos, que parte do princípio de que a família funciona como um sistema interdependente, onde o comportamento de cada membro influencia os demais.
Portanto, um padrão disfuncional de comunicação, por exemplo, pode gerar pressões implícitas e expectativas irreais, criando um ambiente propício para o desenvolvimento de ansiedade, sobretudo quando um dos membros se sente constantemente pressionado a atender às expectativas alheias.
Uma das estratégias-chave da abordagem sistêmica é a capacidade do indivíduo de manter sua identidade emocional, mesmo diante das pressões familiares (Bowen, 1978), pois ajuda a pessoa a se posicionar de forma mais clara, sem se perder em dinâmicas de culpa ou obrigação.
Já a Comunicação Não Violenta (CNV), que foi sistematizada por Marshall Rosenberg na década de 60, oferece ferramentas práticas para transformar os padrões de comunicação familiar em quatro passos essenciais: observar sem julgar, expressar sentimentos, identificar necessidades reais e fazer pedidos claros.
Abaixo indicamos a aplicação prática com a união das duas abordagens, para evitar a ansiedade gerada por expectativas familiares:
Reconheça os padrões sistêmicos: Perceba como os papéis e as cobranças estão distribuídos dentro da família. Pergunte-se: “Estou assumindo uma responsabilidade emocional que não é minha?”
Diferencie-se emocionalmente: Desenvolva a habilidade de dizer “não” ou de estabelecer limites afetivos, mantendo-se conectado com a família, mas sem renunciar a suas próprias necessidades
Use a CNV para se expressar de forma clara e empática:
Observação: “Percebi que nos últimos dias vocês têm me pedido para tomar decisões rapidamente sobre assuntos familiares.”
Sentimento: “Isso tem me deixado ansioso e pressionado.”
Necessidade: “Preciso de um pouco mais de espaço para refletir antes de responder.”
Pedido: “Podemos combinar que eu terei um tempo maior para pensar antes de dar uma resposta?”
Promova diálogos regulares: Reuniões familiares para alinhar expectativas podem ajudar a reduzir ruídos de comunicação.
Gerenciar as expectativas alheias pode ser um grande desafio, dependendo dos contextos. Por isso, é importante implementar um senso de protagonismo, ou seja, entender que cada um é capaz de atingir suas metas com base na compreensão das suas próprias limitações e potenciais.
Transmitir essa forma de pensar para sua família, por meio do diálogo e construção de uma relação de confiança é essencial para alcançar o respeito mútuo e o bem-estar.
Ninguém te conhece melhor que você mesmo, por isso, seja o protagonista da sua própria história! Molde a sua jornada com base nas suas capacidades, procurando sempre evoluir e surpreender a si mesmo, e depois as demais pessoas.
Não precisamos atender as expectativas dos outros e está tudo bem! Estar bem consigo mesmo é o mais importante para melhorar a saúde mental dentro dos grandes desafios diários.
Seja você mesmo com sua própria métrica de expectativas, seja gentil e acolhedor consigo em todos os momentos, pois esse é o caminho ideal para que você conquiste uma saúde mental e uma vida com mais qualidade e bem-estar!