Como lidar com o suicídio, dentro e fora da empresa?
O Setembro Amarelo é um alerta de que o suicídio pode acontecer a qualquer momento, envolvendo pessoas próximas, surpreendendo aqueles com quem a vítima convivia. Pode parecer exagero, mas a origem dessa campanha oferece um bom exemplo. Começou nos Estados Unidos, quando Mike Emme cometeu suicídio, aos 17 anos, em 1994.
Mike era um jovem habilidoso e conhecido na cidade por ter restaurado um automóvel Mustang 68, pintando-o de amarelo, o que lhe rendeu o apelido de “Mustang Mike”. Apesar da popularidade, sua família e amigos não perceberam que o rapaz estava passando por graves problemas emocionais. Como homenagem, em seu velório, foram distribuídas fitas amarelas – lembrando o Mustang – com a frase “se você precisar, peça ajuda”.
Assim teve início a campanha de prevenção ao suicídio usando a cor amarela, que se mostra cada vez mais necessária. Todos os anos, mais pessoas morrem por suicídio do que por HIV, malária ou câncer de mama, ou mesmo por guerras e homicídios.
O suicídio é um fenômeno complexo e envolve muitos fatores, como ambientais, biológicos, culturais, psicológicos e sociais. Apesar disso, sabe-se que 96% das pessoas que tiraram suas próprias vidas sofriam de transtornos mentais como depressão, abuso e dependência de álcool e outras drogas, transtorno bipolar ou de personalidade borderline.
No Brasil o suicídio é a quarta maior causa de morte entre brasileiros – terceira maior entre homens e oitava maior entre mulheres, segundo o Ministério da Saúde. São dados impressionantes, que demonstram a necessidade de lidar com essa realidade em casa, em família, entre amigos e nos locais de trabalho.
Segundo Miryam Vergueiro da Silva, Psicóloga especialista da Mental Clean, estudos mostram que cerca de dois terços dos indivíduos que se suicidam comunicam suas intenções previamente à família, amigos ou médicos, o que demonstra a importância de uma escuta receptiva com um papel facilitador da busca de ajuda preventiva.
“É possível para alguém que esteja próximo a esta pessoa perceber que algo não está bem com ela e não ignorar estes sinais. Tendemos a não abordar as pessoas em sofrimento ou adoecimento mental por receio de sermos invasivos, por acharmos que o que está ocorrendo é da via do privado, mas estamos errados: devemos dizer ao outro o que estamos percebendo e nos colocarmos à disposição para ajudá-lo”, explica a Psicóloga.
Falar sobre adoecimento emocional, rompendo estigmas e tabu, deve ser prioridade para empresas sensibilizadas com a saúde integral dos seus funcionários. “É preciso conversar, abordar o trabalhador que demonstrar algum sofrimento psíquico. Para isso, devemos ter um lugar adequado, reservar tempo para a abordagem, ouvir efetivamente e garantir o sigilo, ser empático – criar conexão com o nosso interlocutor através das emoções”, afirma Myriam.
Quando a empresa proporciona um ambiente de trabalho com segurança psicológica, onde é possível que as pessoas expressem seus sentimentos, inseguranças e medos, consequentemente possibilita o reconhecimento, a abordagem e o encaminhamento destas questões.
A empresa pode ainda estimular seus colaboradores a desenvolverem o autocuidado, a se engajarem no meio social em que vivem, a pensar em sua condição de saúde física e mental, além de proporcionar meios para que eles tenham acesso a programas e serviços dessa natureza.
Além disso, as lideranças devem estar atentas às questões emocionais dentro do ambiente de trabalho, e serem treinadas para promover um ambiente com segurança psicológica.
Sinal Amarelo
Nem sempre o final trágico é imprevisível. Há alguns sinais que são indicativos de que a pessoa pode estar cogitando tirar sua própria vida. E há reações que podem piorar a situação. É preciso exercitar a empatia e jamais minimizar o sofrimento de terceiros.
Entre esses sinais, estão ações concretas como colocar os assuntos burocráticos em ordem, fazer testamento ou dar ou devolver bens, sem explicação. Deve-se atentar também para frases que soam como despedidas, ou lamentos sobre como sua existência é inútil ou um peso para a família e amigos.
Dizer a quem tenha ameaçado ou tentado suicídio frases como “cão que ladra não morde” ou “que a pessoa só quer chamar atenção”, entre outras, transparece desrespeito e desprezo. São falsas certezas que reforçam os estigmas em torno do assunto, e não levam em conta que algumas pessoas conseguem se recuperar depois de uma tentativa, tratando seus transtornos e buscando ajuda.
O que fazer se alguém admite a possibilidade de suicídio:
- Escute, mostre empatia e fique calmo (a)
- Demonstre afeto e apoio
- Leve a situação a sério e verifique o grau de risco
- Pergunte sobre tentativas anteriores
- Explore as outras saídas, além do suicídio
- Encoraje a pessoa a falar, verbalizar a intenção pode ser um alívio e uma forma de pensar em outras alternativas
- Remova os meios pelos quais a pessoa possa levar a cabo sua intenção;
- Busque ajuda de outras pessoas
- Se o risco é grande, fique com a pessoa
O que não se deve fazer:
- Ignorar a situação
- Demonstrar choque ou pânico
- Tentar se livrar do problema acionando outra pessoa e considerar-se livre do problema
- Falar que tudo vai ficar bem, sem agir para que isso aconteça
- Desafiar a pessoa a continuar em frente
- Fazer o problema parecer trivial
- Dar falsas garantias
- Jurar segredo
- Deixar a pessoa sozinha
Informação é a melhor forma de prevenção e a melhor ajuda é a profissional!
Mas, a ação imediata ao reconhecer uma pessoa em sofrimento emocional, estimulando que ela fale sobre seus sentimentos e se sinta acolhida, é o que pode lhe devolver o brilho nos olhos e a esperança de viver. Sem julgamentos e com empatia!