Os múltiplos desafios do profissional com TDAH
Crianças barulhentas, desatentas e que não param cinco minutos na mesma atividade. Esse é o estereótipo criado em torno das pessoas com Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH).
Mas quem acha que só escolas e pais de crianças e adolescentes devem se preocupar com o assunto e que isso não passa de falta de limites está duas vezes enganado.
O TDAH é uma condição neurobiológica que atinge cerca de 5% da população mundial. Estima-se que cerca de 60% das pessoas que tiveram na infância mantêm o distúrbio na vida adulta, tendo como principais características nesta fase a diminuição da capacidade de atenção, impulsividade e hiperatividade, mas em menor intensidade do que quando criança.
A hiperatividade é caracterizada pelo excesso de atividade e pela sensação de inquietude, que podem ocasionar pensamentos confusos, dificuldade de raciocínio e oratória.
Já a desatenção acontece quando há dificuldade de iniciar uma tarefa e se manter engajado na ação, ao passo que a impulsividade se dá por meio de reações impensadas e repentinas.
A existência de TDAH em adultos foi oficialmente reconhecida em 1980 pela Associação Psiquiátrica Americana. Muitos chegam à fase adulta sem ter o diagnóstico, sendo que alguns descobrem por si mesmo sua condição e procuram por ajuda especializada.
“O adulto pode apresentar dificuldade em avaliar o próprio comportamento, isso afeta as pessoas à sua volta. Mesmo não sendo um comportamento pensado, ele pode ser visto como egoísta”, explica Thaís Gaiasso, Psicóloga e especialista da Mental Clean.
O maior desafio desses adultos está no ambiente profissional, onde precisam apresentar desempenho e rendimento e ao mesmo tempo se relacionar com pessoas de diferentes perfis.
Sem diagnóstico e tratamento adequado, o profissional com o transtorno pode se sentir incapaz, incompreendido ou excluído, podendo não alcançar o rendimento para o qual está habilitado.
É difícil para as pessoas que convivem com alguém que possui TDAH entenderem a desatenção, a aparente falta de interesse, o embaraço mental e os esquecimentos que são considerados como “características negativas” e não são compreendidas como sintomas de um transtorno.
Pessoas com TDAH têm memória disfuncional para tarefas cotidianas e pode parecer inofensivo a princípio, mas, quando multiplicado por todas as tarefas e eventos que precisam ser realizados, pode se tornar um grande problema, não só para quem tem o transtorno, como para os que convivem com elas.
Por parte das empresas e seus líderes, é importante reforçar que é sempre necessário manter um ambiente acolhedor e com abertura para que seus colaboradores possam relatar algum sofrimento emocional ou dificuldade na execução de tarefas, além da colaboração com ações diárias, pois, assim, podem beneficiar não somente o profissional que apresenta uma dificuldade, mas toda a equipe.
“Promover ginásticas laborais, rodas de conversas com especialistas em Saúde Mental do Trabalhador, reuniões periódicas de planejamento e dar feedbacks focados, são alguns exemplos de estratégias que contribuem para o bem-estar e equilíbrio emocional dos colaboradores e que podem ser praticadas continuamente pelas organizações”, sugere a Psicóloga Marinalva Requião, especialista da equipe da Mental Clean.
Conhecer o transtorno e saber como lidar com seus diferentes desafios, é importante para que o profissional possa ser alocado em um tipo de trabalho em que pode obter melhor desempenho e maior adaptabilidade, pois, enquanto o funcionário padrão trará resultados padrão para a empresa, é interessante pensar que o funcionário com TDAH é capaz de levar a equipe para outro nível, por enxergar o mundo de outra forma.
Segundo Patrícia França Proença, Psicóloga e especialista da Mental Clean, para obter um bom desempenho de um funcionário que possui TDAH é necessário efetuar alguns ajustes no método de trabalho, como permitir que suas atividades sejam realizadas em prazos mais extensos, explicar mais detalhadamente suas demandas ou que sejam passadas por escrito e acompanhar a execução um pouco mais de perto.
“Porém, as pessoas que apresentam TDAH têm alguns pontos fortes que podem ser muito bem aproveitados no ambiente corporativo, pois são funcionários que trabalham alimentados pela paixão, gostam e até preferem funções com alta intensidade, com ritmo acelerado. São criativos e práticos, gostam de assumir desafios e se adaptam em funções que são muito bem estruturadas”, enfatiza a especialista.
Boas medidas podem ser adotadas na empresa para auxiliar esses profissionais, evitando, assim, as consequências negativas tanto para o profissional quanto para a organização.
Elencamos algumas estratégias que podem auxiliar os profissionais com Déficit de Atenção e Hiperatividade a manterem o foco e a desempenharem suas atividades com mais segurança e assertividade:
- Procure conhecer o seu ritmo, os horários em que consegue concentrar-se com mais facilidade e usá-los para as tarefas mais difíceis ou trabalhosas.
- Otimize a gestão do seu tempo – procure organizar as atividades do seu dia priorizando o que é urgente e importante. Defina o horário de cada tarefa do dia.
- Ao sentir dificuldade em se concentrar, faça uma pausa para uma pequena caminhada ou uma atividade de relaxamento. Você pode manter em sua mesa objetos que ajudam a desestressar, como bolas massageadoras, e utilizá-los quando achar necessário.
- Evite checar e-mails a todo momento ou abrir sites de notícias, que podem distraí-lo e atrapalhar o rendimento.
- Para facilitar o planejamento, agende reuniões periódicas com a chefia ou liderança. Feedbacks sobre o trabalho podem ajudar a manter o ritmo ou alinhar os pontos de atenção.
- Se possível, estabeleça um trabalho de cooperação e compartilhamento com um colega que seja organizado, pois isso impõe ritmo ao trabalho, quebra a monotonia e pode ser um aliado contra o esquecimento. Lembre-se que “uma mão lava a outra” e você pode compensar seu colega com eventuais ajudas que ele necessite.
- Mantenha seu local de trabalho sempre organizado, isso facilita para que você não se atrapalhe, se atrase ou perca tempo com coisas desnecessárias.
- Faça uso de bilhetes e quadros de avisos para lembrá-lo de tarefas e compromissos, posicionando-os em locais visíveis.
- Para evitar a impulsividade, anote as ideias e espere antes de falar. Você se sentirá mais seguro e confiante sobre o momento certo emitir suas observações sobre os projetos.
- Procure relaxar e meditar por alguns minutos ao longo do dia, essas pequenas pausas ajudam a desacelerar o corpo e a mente, reduzem os níveis de estresse, facilitando a concentração.
- Pratique exercícios físicos, pois movimentar o corpo faz com que o nosso cérebro libere hormônios que estimulam a motivação e a produtividade.
Muito ao contrário de rótulos estigmatizados, o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade não torna um indivíduo incapaz de concluir seus estudos e alcançar carreiras bem-sucedidas.
Com acolhimento, ambientes propícios e apoio de profissionais especializados em Saúde Mental, essa pessoa pode desempenhar qualquer função com excelência.
Sua empresa está atenta a essa realidade?