Agosto Lilás: Qual o papel das empresas no enfrentamento à violência contra as mulheres?

No Brasil, uma mulher é assassinada a cada duas horas. É o quinto país do mundo em taxa de ocorrência de feminicídios, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).

Há 15 anos, o enfrentamento a essa realidade ganhou força com a sanção e promulgação (aprovação e efetivação) da Lei Maria da Penha (Lei 11.340/06), cujo nome homenageia a farmacêutica vítima de violência doméstica que denunciou e lutou pela punição do cônjuge.

Em 2015 houve mais uma conquista com a Lei do Feminicídio (Lei 13.104/15), que qualifica como crime de homicídio quando é cometido contra a mulher por razões da condição de sexo feminino.

Ambas são leis elogiadas em todo o mundo. No entanto, a violência contra a mulher continua sendo praticada em larga escala no Brasil, mesmo com as punições severas.

Frente a essa realidade, estratégias de sensibilização para o problema se tornam fundamentais, como o Agosto Lilás, que possui o objetivo de alertar a população sobre a importância da prevenção e do enfrentamento à violência contra a mulher, incentivando denúncias de agressões físicas, psicológicas, sexuais, morais e patrimoniais.

Nesse contexto, como as empresas podem atuar no enfrentamento à violência contra as mulheres?

Preparamos uma entrevista com as psicólogas especialistas do Núcleo de Enfrentamento à Violência de Gênero da Mental Clean, Gisele Borsotte, Luanna Xavier e Beatriz Pakrauskas, na qual explicam como levar esse tema para as empresas e orientam como elas podem agir para serem protagonistas na defesa desta importante causa.

Confira:

Durante a pandemia os casos de violência doméstica explodiram. Além do fato de a mulher estar em isolamento social, na mesma casa que o seu agressor, no caso, o companheiro, há outro fator que explique esse comportamento agressivo?

Em 12 estados analisados o feminicídio aumentou em 22,2%, saltando de 117 vítimas em março/abril de 2019 para 143 vítimas em março/abril de 2020, segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública. O distanciamento social, a dificuldade de acessar os serviços de proteção social e a intensificação da convivência em família agravaram a situação de violência doméstica.

Houve diminuição dos registros de boletins de ocorrência e solicitação de medidas protetivas, mas aumentaram as ligações para a Polícia Militar e para o Ligue 180, demonstrando uma violência escondida. Há outros fatores como estresse com desemprego e diminuição da renda, uso maior de álcool, dificuldades como delegacias com horário reduzido, atendimento apenas para casos “graves” e não ter para onde ir.

Qual o impacto emocional para a mulher que sofre qualquer tipo de violência?

Muitos, como a diminuição da autoestima, maiores índices de estresse, dificuldades para dormir, dificuldades em fazer novos vínculos e manter os vínculos anteriores, diminuição do autocuidado, dificuldade em criar projetos para o futuro e ter metas. Também apresentam mais probabilidade de doenças mentais como depressão, ansiedade, síndrome do pânico, transtorno de estresse pós-trauma, etc.

Qual o papel das empresas no enfrentamento à violência contra as mulheres?

Quando algumas empresas despertam para a responsabilidade social de fortalecer o empreendedorismo feminino, o despertar da cidadania em grupos de mulheres e ações de prevenção ao feminicídio, existe uma solidariedade às mulheres trabalhadoras da instituição.

As empresas atualmente estão mais preparadas para abordar a questão da violência doméstica com os seus colaboradores?

Podemos dizer que estão começando a se preparar e estão mais atentas ao tema. Há empresas com programas de apoio para mulheres em situação de violência já estruturados e outras começando seus programas, com maior interesse em conscientizar seus colaboradores.

Podemos citar a Coalizão Empresarial pelo fim da violência contra Mulheres e Meninas como uma iniciativa importante no sentido de posicionamento, o que traz a possibilidade de mobilizar a cultura interna da empresa, influenciando os colaboradores e seu entorno.

Como falar sobre isso nas organizações?

Para tratar do tema nas organizações podem ser usados diferentes meios de comunicação e estratégias em conjunto ou escolher qual a mais eficaz para a cultura daquela empresa.

É possível fazer palestras e workshops presenciais ou online de sensibilização para todos os colaboradores e voltadas para públicos específicos como mulheres, líderes, homens etc., cartilhas informativas, banners em locais de grande circulação, vídeos informativos nas plataformas de trabalho, entre outras formas de levantar o tema.

Qual o papel do líder nesse contexto?

Os líderes são grandes aliados no processo de identificação de colaboradoras em situação de violência e encaminhamento para que elas tenham atendimento, seja em canais da própria empresa ou para instituições públicas como delegacias. Além de servir como apoio no processo de acompanhamento pelo Canal ou RH da empresa. Os líderes precisam ter informações e serem orientados a identificar, abordar a colaboradora e como ajudá-la.

Como as organizações podem atuar de forma preventiva nessa questão? E também ajudando mulheres que estejam em situação de violência doméstica?

As empresas podem atuar difundindo informações sobre o que é e quais são os tipos de violência, ajudando a mulher a identificar situações potencialmente perigosas, bem como atuar na conscientização dos homens, gerando um processo de desconstrução da cultura machista que naturaliza e autoriza a violência contra mulher.

Programa Violência Contra a Mulher da Mental Clean voltado a empresas

Para orientar as empresas a implantarem ações de Enfrentamento à Violência contra a Mulher, a Mental Clean criou um Programa específico para prestar acompanhamento especializado e completo às mulheres que estejam vivendo essa triste situação.

O objetivo do Programa é contribuir para que as mulheres saiam do ciclo de violência e oferecer suporte para que elas conquistem o bem-estar e Saúde Emocional.

Para conhecer mais sobre o Programa acesse este link.