Como abordar o tema “violência doméstica” de forma segura e acolhedora

No mundo, quase 1 em cada 3 mulheres já sofreu violência física e/ou sexual — um dado de 2024 da Organização Mundial da Saúde que ajuda a entender por que o tema não pode ser tratado como exceção.

No Brasil, a 10ª Pesquisa Nacional de Violência contra a Mulher (DataSenado, 2023) mostrou que 30% das mulheres relatam ter vivido violência doméstica ou familiar, e muitas não buscam ajuda formal por medo de julgamento ou represálias.

A violência infelizmente é uma realidade, portanto falar sobre isso é uma necessidade, mas fazer isso sem reforçar preconceitos, julgamentos e paradigmas não é uma tarefa simples.

Tão ruim quanto o medo da exposição, é a normalização dessa situação em certos contextos culturais de nossa sociedade. Não falar ou expor essa realidade faz parte do processo de normalização da violência!

Abordar esse tema exige cuidado, empatia e estratégias seguras, principalmente no ambiente de trabalho ou em espaços comunitários. Uma mulher que está passando por esse tipo de situação complexa, além do medo do julgamento alheio, também teme retaliações diretas de seu agressor, que muitas vezes está dentro de sua casa e utiliza métodos de chantagem, ou dependência (financeira ou emocional), para mantê-la quieta.

Como ter uma abordagem segura e acolhedora?

Essa pergunta é feita por todos que querem mudar essa realidade que aí está, e ajudar as mulheres que precisam.

Respeito acima de tudo é o primeiro passo para uma abordagem correta e que não fira os sentimentos da mulher, principalmente no que tange a privacidade da vítima.

Evite perguntas que transfiram a culpa para a vítima como “por que você escolheu essa pessoa? por que você não sai dessa relação?”. Ao invés disso, opte por perguntas abertas e confortantes (“Você se sente segura em casa?”, “já falou disso com alguém de confiança?”).

E sempre disponibilize discretamente contatos seguros de denúncia, como Ligue 180 (Central de Atendimento à Mulher), e incentive que a ação seja tomada. Compreenda que a decisão de denunciar ou sair de casa é complexa e pessoal. Seja paciente e ofereça apoio contínuo.

Falar sobre violência doméstica com segurança começa por ouvir sem culpar ou julgar, validar o sofrimento, avaliar riscos e oferecer opções.

Essas são algumas recomendações do protocolo LIVES (Listen, Inquire about needs, Validate, Enhance safety, Support) da OMS, que inspira ações em todo o mundo para superar os receios envolvendo o tema, algumas políticas incentivam:

  • escuta ativa, sem interrupção;
  • validação sem culpa;
  • avaliação de riscos, necessidades e rotas de segurança;
  • apoio, denúncias e encaminhamentos.

Essas ações podem (e devem) ser tomadas pelas empresas, pois o ambiente de trabalho deve ser seguro e protetivo para todos os colaboradores, mas principalmente as mulheres. Para cumprir com esse objetivo, algumas práticas são essenciais para trazer a sensação de proteção e acolhimento para as funcionárias que precisam.

Algumas ações que o NEV, Núcleo de Enfrentamento à Violência contra a Mulher, da consultoria Mental Clean, oferece envolvem:

  • Treinamentos para líderes e RH sobre como identificar sinais e agir corretamente;
  • Canal interno e seguro de denúncia, com sigilo garantido;
  • Campanhas internas que informem sobre violência doméstica e direitos das vítimas;
  • Programas de apoio e suporte constante para a saúde mental da vítima (24/7);
  • Preservar a autonomia financeira da mulher (assessoria financeira, jurídica ou social).

Cada atitude de escuta, cada palavra de apoio e cada recurso compartilhado podem ser o ponto de virada para que a vítima busque ajuda.

O silêncio, muitas vezes, é o maior aliado da violência — por isso, abrir espaço para a conversa é um ato de coragem e empatia. Jamais normalize o sofrimento silencioso, mas sim, normalize a liberdade de falar sobre o tema e de libertar quem está preso no ciclo da violência.