Dependência emocional e a violência contra a mulher

Cerca de 52% das mulheres não denunciam seus agressores, entre os motivos estão o risco à vida e a dependência emocional

No Brasil, mais de 4 milhões de mulheres sofrem agressão física por ano, de acordo com uma pesquisa feita pelo Datafolha e encomendada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública. O levantamento foi realizado em 2016 e destaca dados alarmantes sobre a situação das mulheres no país.

Segundo a pesquisa, em 61% dos casos o agressor era conhecido e 35% destes era companheiro ou ex-companheiro da mulher. A maior parte dos casos de violência aconteceu em casa e somente 11% das vítimas procurou uma delegacia da mulher.

Grande parte das vítimas, cerca de 52%, sofre calada e continua vivendo o ciclo da violência doméstica: ele se inicia pela fase da “lua de mel”, na qual a mulher sente que está tudo bem; depois vem a “tensão”, quando o agressor assume uma conduta mais agressiva, com humilhações verbais e depois a fase da “explosão”, quando o companheiro a agride verbal e fisicamente, apresentando um comportamento descontrolado.

Uma cartilha criada pela Coordenadoria da Mulher, do Tribunal de Justiça do Estado de Sergipe destaca os principais motivos que fazem com que as mulheres demorem para romper o ciclo da violência:

– Risco à vida;

– Medo da exposição de sua vida;

– Acredita que conseguirá mudar o comportamento do parceiro;

– Teme que os filhos a culpem pelo fim da união conjugal;

– Dependência afetiva ou econômica.

O medo de perder

A dependência emocional, um dos motivos que levam muitas mulheres a se submeterem a violência física e psicológica, faz com que a pessoa tenha medo de ser abandonada e tenta salvar o relacionamento a qualquer custo. Quem sofre do problema, acredita que o parceiro irá mudar e que as coisas irão se resolver sozinhas, o que dificilmente acontece. Vive um ciclo de auto-engano onde o “fundo do poço” parece não ter fim.

Segundo a psicóloga norte-americana Robin Norwood, autora do livro “Mulheres que amam demais”, a pessoa com dependência emocional está “habituada à falta de amor em relacionamentos pessoais, está disposta a ter paciência, esperança, tentando agradar cada vez mais”.

De acordo com a autora, normalmente a mulher está disposta a assumir mais de 50% da culpa em qualquer relacionamento. Além de apresentar uma autoestima baixa e achar que no fundo não mereça ser feliz.

Geralmente a origem desse tipo de comportamento está ligada à infância, período em que houve falta de carinho, atenção ou apoio, não tendo suas necessidades emocionais supridas.

Na vida adulta, a pessoa tenta suprir o vazio por meio de relacionamentos, comida ou do uso de substâncias químicas.

Tratamento

É importante que a mulher busque tratamento para a dependência emocional a fim conseguir sair do ciclo de violência. Uma alternativa é a psicoterapia, ela poderá ajudar a aceitar as limitações e a dar prioridade para si mesmo. Além disso, há grupos de apoio que contribuem para o combate à dependência, como o MADA (Mulheres que Amam Demais Anônimas) e o CODA (Codependentes Anônimos).