Desafios e superações das mães na quarentena
Deem um Ctrl Z, levantem as mãos ou comam um cupcake as mães que não estejam enfrentando o mesmo conflito neste momento de isolamento social: conciliar as demandas de home office com as tarefas domésticas e os cuidados com os filhos.
Enquanto muitos podem aproveitar esse período para colocar a leitura em dia, assistir séries, organizar armários e resgatar hobbies antigos, essa ‘Mãe da Quarentena’, de repente, teve que vestir sua capa de “super mãe” para conseguir vivenciar todos esses papéis em um único dia. O que no início chegou a ser fantasiado, logo foi desmistificado por uma realidade que vem exigindo, principalmente das mulheres, habilidades de adaptação e assertividade nas decisões.
Como explicar para as crianças menores que ‘a mamãe está em casa’, mas tem que trabalhar e dar conta de todas as outras atividades?
No começo da pandemia e do distanciamento social várias pessoas romancearam o home office, achando que teriam tempo para ver filmes e fazer encontros online com amigos, etc. Depois, perceberam que não é tão fácil e tranquilo assim, pois “a casa está suja, a pia está cheia de louça, as pessoas não conseguem entregar tudo o que precisam, as crianças não param de chorar”, exemplifica Fátima Macedo, Psicóloga e CEO da Mental Clean.
Não por acaso, em pesquisa recente realizada pela Catho com 7 mil pessoas, 60% das mulheres responderam que estão sentindo os impactos do isolamento social em sua Saúde Emocional, sendo a Ansiedade o principal sintoma.
Para Márcia Yoko, Psicóloga e especialista da Mental Clean, mesmo diante de tantas solicitações que podem ser muito estressantes, é possível amenizar esse cenário com mais leveza e equilíbrio emocional estabelecendo limites de atuação. Nesta entrevista, ela explica qual o perfil dessa ‘Mãe da Quarentena’, como administrar as várias funções e sugere dicas práticas para aproveitar o tempo com os filhos em casa.
Confira:
A ‘Mãe da Quarentena’ é uma nova mãe?
Não diria nova, mas sim diferente, já que está tendo que ser mãe 24 horas por dia e nunca foi tão demandada como agora! E quando se pensa em ser mãe, imaginamos acompanhar as atividades dos filhos, dar amor, carinho, criar vínculos afetivos, mas cada um no seu tempo e espaço. Nunca se pensou que todos teriam que ficar no mesmo espaço e por tanto tempo.
É preciso ser uma super mãe?
Mesmo respondendo ‘não’, as mães acham que precisam ser. Este estigma de ‘super mãe’, ‘super mulher’ acaba pesando para as mulheres, pois o sentimento de culpa, preocupação e ansiedade aumentam, já que a autocobrança foi ativada.
É necessário rever este conceito e porque é preciso ser ‘super mãe’, se questionar e olhar para si, para entender esta construção do papel de mãe. Comece olhando para o que você acerta, depois observe como está a relação com as crianças ou filhos mais velhos, e por fim, o que é possível fazer para melhorar e o que depende de você.
É importante não ficar se comparando com outras mães, pois cada uma tem sua história de vida e seu jeito de lidar com a maternidade. A comparação pode gerar ou intensificar sintomas de culpa, tristeza, raiva e frustração.
Como separar a mãe, a profissional e a mulher?
Este é o grande desafio, já que está tudo junto e misturado. Tentar separar um local da casa para realizar o trabalho profissional remoto e deixar claro que, quando você estiver neste lugar, estará trabalhando e que quando tirar o tempo de descanso poderá ficar com as crianças. É importante tentar manter alguns rituais como fazer pelo menos uma refeição com todos da família, contar história antes de dormir e não deixar de reservar um tempo para realizar atividade física, ler ou apenas descansar.
Como lidar com a culpa?
Culpa é um sentimento muito comum entre as mães que, acertando ou errando, permanece nela. Pegue leve com você mesma, não se cobre tanto e aceite que não precisa dar conta de tudo!
Antes a mãe se culpava por ter pouco tempo com as crianças e hoje, apesar de estar no mesmo ambiente que a criança, tem outras atividades para fazer, como trabalho, casa, aula on-line e, com o tempo que sobra (ou quase), ela se sente culpada por não ter conseguido fazer tudo. É importante anotar todas as atividades do dia a dia e ver o que é possível realizar, o que depende de você e do outro, lembrando que não dá para controlar o próximo, então conte apenas com o que está dentro do seu limite, mas não esqueça de compartilhar as responsabilidades.
Como administrar os sentimentos que afloram?
A primeira sugestão é respirar e entender que não precisa dar conta de tudo, muito menos a todo momento. Normalmente, a autocobrança e a culpa permeiam as mães e permitir ter um tempo para si é importante. Faça uma conexão consigo mesma, seja no banho ou 10 minutos antes de levantar ou dormir. Sugiro também que você possa nomear os sentimentos para que consiga administrá-los ao longo do dia.
Qual o melhor jeito de dividir as responsabilidades?
Aceitar ajuda é o primeiro passo. Muitas vezes a mulher não permite que o “outro” ajude, pois acha que só ela sabe fazer e que terá mais trabalho deixando o marido cuidar dos filhos ou cuidando dos afazeres domésticos. É importante saber o que cada membro da família pode fazer para auxiliar na casa, mesmo as crianças podem guardar seus brinquedos, deixar a louça na pia e não largada pelos cômodos.
Pode-se criar com toda família um quadro com o nome de quem vai fazer tal atividade e o horário, por exemplo: recolher o lixo – nome do responsável – período. Lembrando que muitas vezes as atividades podem não sair do jeito que você costuma fazer, pois cada um tem uma maneira de realizar a tarefa.
Para evitar conflitos, sugiro combinar pelo menos o que se espera de cada atividade, por exemplo: lavar a louça = a peça deve estar limpa e sem restos de comida ou bebida.
Como preparar as crianças para a separação pós-pandemia, após tanto tempo juntos?
As crianças estão adorando ter a mãe por perto, mas também estão com saudades da rotina que tinham, como escola, amigos e outros trabalhos extra curriculares. Como as crianças acabam sendo espelhos dos pais, é importante que eles demonstrem segurança no retorno das ações presenciais e isso ajudará a diminuir possíveis sintomas de ansiedade e tristeza dos pequenos.
Como a retomada será gradual e planejada, a partir do momento em que os pais souberem quando ocorrerá, devem conversar com as crianças para que elas mantenham o hábito de usar o álcool em gel e a máscara. Precisam pontuar que neste primeiro momento terão que evitar abraçar e beijar os amigos, mas que tudo dará certo. Dependendo da criança, utilize o recurso do desenho e da encenação para se preparar para o retorno.
Evite ficar falando que sentirá muitas saudades da criança e que preferiria ficar em home office e ele com aulas on-line, ou chorar quando for levar a criança para escola ou casa do cuidador. Seu filho precisa sentir que é amado e que é seguro voltar para o mundo externo, pois sempre terá o seu lar e sua família como referência.
Dicas práticas para aproveitar o tempo em casa com as crianças: Estabelecer uma rotina é muito importante, portanto, organize e planeje com todos que estão em casa, pois além do seu trabalho e de outros membros, as crianças podem ter aula on-line e provas. Verifique se há horários em que é possível negociar, seja na empresa, na escola ou em casa.
Muitas mães acreditam que precisam a todo momento apresentar coisas diferentes para as crianças, pois senão elas podem ficar entediadas. O novo gera insegurança e isso se apresenta até em uma nova brincadeira ou desenho. Por isso, fiquem tranquilas em fazer algo que elas conheçam e gostem, como contação de histórias e pode ser a mesma (principalmente se a criança for pequena, já que ela sabe o começo, meio e fim, o que gera um pouco de controle e segurança para ela).
Outras atividades que podem ser desenvolvidas com os pequenos: trabalhos manuais – artesanatos, pinturas e desenhos; atividades físicas como ioga, exercício de respiração, alongamentos. Cozinhar com as crianças também pode ser um momento lúdico e prazeroso.
Vai passar!
Se você é uma mãe que está vivenciando tudo isso, agora já sabe que o momento requer calma e habilidade para administrar essa situação caótica com leveza e equilíbrio. Cuide da sua Saúde Emocional e se precisar peça apoio profissional, pois só quando estamos bem é que conseguimos cuidar do próximo.
Lembre-se da metáfora das máscaras de oxigênio dos aviões: ‘durante o voo, em situação de perigo, máscaras de oxigênio cairão automaticamente, primeiro coloque a sua máscara para depois ajudar quem precisa’.