Novembro Laranja: campanhas de prevenção — do ativismo à ação no dia a dia

O Dia Laranja, definido oficialmente pela ONU como o Dia Internacional pela Eliminação da Violência contra a Mulher, é celebrado em 25 de novembro e marca o início da campanha global “16 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência de Gênero” (25 de novembro a 10 de dezembro).
Criado pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 1999, o dia carrega a cor laranja como símbolo de um futuro livre de violência e de um chamado urgente à mobilização pública (ONU, 2000; UN Women, campanhas “Orange the World”, 2024).
Embora exista uma data oficial e um marco simbólico, a pauta não pode caber em um único dia. A violência contra a mulher atravessa todas as esferas sociais e todos os meses do ano. Por isso, mais que o Dia Laranja, de ações práticas de prevenção precisam ser contínuas. para enfrentar essa situação tão grave que ainda impacta a vida de tantas mulheres brasileiras.
A ONU Mulheres reforça que a eliminação da violência contra a mulher depende tanto de políticas públicas estruturadas quanto do engajamento cotidiano de pessoas, comunidades e instituições.
Contudo, o cenário atual indica o tamanho do desafio: a Organização Mundial da Saúde aponta que 1 em cada 3 mulheres no mundo já sofreu violência física e/ou sexual ao longo da vida (WHO, atualização 2024).
No Brasil, números recentes do Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2025 mostram mais de 1 milhão de chamadas ao 190 relacionadas à violência doméstica ao longo de 2024, além de crescimento nas medidas protetivas e nos registros de violência psicológica e perseguição (FBSP, 2025).
Esse panorama deixa evidente que a violência contra a mulher não é apenas um fenômeno criminal ou social; é também um tema de saúde mental. Pesquisas internacionais como a publicada no Lancet Psychiatry (Oram et al., 2022), revelam que mulheres expostas à violência apresentam taxas significativamente mais altas de depressão, ansiedade, transtorno de estresse pós-traumático e ideação suicida.
A violência afeta a saúde emocional, a autoestima e altera a maneira como a mulher enxerga a si mesma, suas relações e seus espaços de convivência.
Nesse sentido, discutir campanhas, como o Novembro Laranja, é discutir também o sofrimento psicológico que muitas mulheres carregam em silêncio e que frequentemente permanece invisível por medo, vergonha ou ausência de redes de apoio.
Como a própria campanha Orange the World (2024) da ONU mostrou, maior visibilidade costuma acelerar oferta de medidas protetivas, treinamento de profissionais e investimentos públicos e privados.
Ao longo dos anos, as campanhas internacionais têm contribuído para romper esse silêncio. A própria visibilidade gerada pelo Dia Laranja ajuda mulheres a reconhecerem que aquilo que vivem tem nome, “violência”, e que existem caminhos de proteção e acolhimento.
É necessário, portanto, criar ambientes de confiança nas empresas, estimular conversas seguras e desenvolver a capacidade de acolher com escuta qualificada e empática. Por isso, o papel de cada pessoa como ponto de apoio, e não de julgamento, é crucial.
A transição do ativismo para a ação diária começa com gestos simples: validar a fala de uma mulher que pede ajuda, orientar sobre serviços de proteção, identificar comportamentos que podem ser sinais de alerta e defender ambientes onde a segurança emocional seja prioridade.
Do mesmo modo, as empresas desempenham papel decisivo na transição entre ativismo e prática:
- Capacitação de líderes e profissionais da área da saúde e de recursos humanos para identificar sinais, acolher e encaminhar as vítimas de violência de forma adequada e com sigilo;
- Protocolos internos claros: canais seguros de denúncia, política de afastamento/apoio, parcerias com serviços jurídicos, sociais e psicológicos;
- Campanhas e ações contínuas: rodas de conversa, comunicação permanente e programas de prevenção que integrem saúde mental e proteção física.
Ambientes de trabalho podem funcionar como territórios de proteção quando suas lideranças são capacitadas para identificar sinais de sofrimento, oferecer acolhimento sigiloso e encaminhar para suporte especializado.
O Núcleo de Enfrentamento à Violência contra a Mulher da Mental Clean, realiza o treinamento dos líderes e auxilia na construção de redes de apoio para a proteção das mulheres no trabalho, incluindo:
- Acompanhamentos psicossociais e jurídicos com a orientação de especialistas;
- Acesso a serviços de suporte e tratamentos específicos, além de recursos na localidade do cliente para resolução com ações protetivas, se necessário;
- Canal de atendimento 0800 (24/7) com suporte de psicólogas especializadas;
- Ações de Psicoeducação sobre os tipos de violência em palestras, treinamentos, rodas de conversa no formato presencial e on-line e ações de comunicação diferenciadas.
Novembro Laranja é, acima de tudo, um chamado para não esperarmos a data oficial para agir, e lembrarmos que a verdadeira mudança acontece quando transformamos informação em atitude. Cada atitude que acolhe, cada política que protege, cada espaço que escuta contribui para um futuro em que mulheres possam viver com dignidade, autonomia e saúde integral. A proteção das mulheres começa com cada um de nós.




