O que a tragédia no Afeganistão nos ensina sobre a Violência Doméstica e o papel das empresas

O mundo inteiro foi surpreendido com a tomada da capital do Afeganistão, Cabul, pelo grupo extremista Talibã, recentemente. Imagens de horror logo invadiram nossas TVs e celulares, registrando tentativas desesperadas de fuga. A preocupação com as mulheres afegãs foi imediata, pois o histórico dos radicais é de perda de todos os direitos e violência institucionalizada.

Enquanto o Talibã governou o país, entre 1996 e 2001, as mulheres foram proibidas de estudar e eram confinadas em suas casas. Obrigadas a casar, somente podiam sair ou viajar sem a companhia de um homem da família. Não tinham nomes, pois ao nascer eram registradas como filha ou neta de Fulano, isto é, perdiam o direito a uma identidade própria. O acesso à saúde era restrito, pois somente podiam ser atendidas pelas poucas mulheres enfermeiras ou médicas que ainda restavam no país. Espancamentos, mutilações e pena de morte por apedrejamento (em acusações de adultério) eram constantes.

As mulheres são agredidas em todo o mundo. Mas, no caso do Afeganistão, ela é institucionalizada e incentivada pelos dirigentes radicais. Já o Brasil tem a 5ª maior taxa de violência doméstica do mundo, mas a sociedade caminha com leis, como a Maria da Penha e a lei que instituiu o feminicídio.

Tanto no Brasil quanto no Afeganistão, a violência contra a mulher revela um contexto machista, em que os homens acreditam ter superioridade e, por conta disso, restringem às mulheres o acesso ao estudo e ao trabalho, direitos fundamentais para a independência feminina.

Segundo as Psicólogas e Especialistas do Núcleo de Enfrentamento à Violência de Gênero da Mental Clean, Gisele Borsotte, Luanna Xavier e Beatriz Pakrauskas, felizmente as corporações estão despertando para a importância do seu papel no apoio ao enfrentamento à violência doméstica, através da implantação de programas de apoio para as mulheres em situação de violência e ações de conscientização sobre o tema.

“Para a implantação desses processos e sucesso dessas propostas, é muito importante treinar a liderança, que é grande aliada para a maior identificação de colaboradoras em situação de violência e encaminhamento, para que recebam apoio”, explicam as Psicólogas.

As organizações podem atuar difundindo informações sobre o que é e quais são os tipos de violência, ajudando a mulher a identificar situações potencialmente perigosas, bem como na conscientização dos homens, gerando um processo de desconstrução da cultura machista que naturaliza e autoriza a violência contra mulher.

Equidade de gênero e representatividade feminina nas empresas também são formas de promover um ambiente de diversidade e aceitação. Neste caso, também se faz necessária a conscientização das equipes, por meio de treinamentos, palestras, workshops que estimulem a compreensão e o debate sobre o tema. Em seguida, formação de lideranças e grupos de trabalho para identificar focos de problemas e atitudes a serem reformuladas internamente.

Equiparar salários também é uma ação fundamental. O Relatório do Fórum Econômico Mundial, de 2020, aponta que o Brasil está na 130º posição em relação à igualdade salarial entre homens e mulheres que exercem funções semelhantes, em um ranking com 153 países.

Temos a sensação de estar com as mãos atadas no que diz respeito às notícias e às cenas lamentáveis que ocorrem em terras muito distantes, mas, através da empatia e da solidariedade com toda e qualquer situação que possa privar as pessoas dos seus direitos e liberdade, podemos ajudar a mudar essa triste realidade e construir uma nova cultura em que a mulher se fortaleça cada vez mais. Por isso, cabe a todos nós, homens, mulheres, profissionais, lideranças e empresários, atuar fortemente para erradicar a cultura de violência aqui no Brasil e no mundo!