Por que nos sentimos tão cansados?
Vivenciamos um momento em que as pessoas se sentem cansadas, saturadas, com uma sensação de esgotamento emocional…
Muito antes da pandemia do novo coronavírus, uma pesquisa do Ibope, de 2017, constatou que 98% dos brasileiros se diziam cansados e 61% afirmavam estar exaustos. Já vivíamos quase um estado geral de fadiga.
O filósofo Friedrich Nietzsche, escreveu em 1878, em seu livro Humano, demasiado humano: “Por falta de repouso, nossa civilização caminha para uma nova barbárie”.
Nosso cotidiano tem sido pautado cada vez mais por uma rotina hiperativa que inclui noites mais curtas de sono e conexões infindáveis ao longo do dia, e quase nenhum espaço para a contemplação e escuta dos nossos sentimentos.
Assistimos ao noticiário da TV enquanto almoçamos, atentos às notificações do celular. Conversamos com nossos familiares, ao mesmo tempo, checamos nossas redes sociais e respondemos às mensagens nos aplicativos.
E se estamos trabalhando de casa, muitas vezes, fica ainda mais difícil conciliar todas as tarefas profissionais com as rotinas domésticas.
Aos poucos, a exaustão vai se instalando com a falta de motivação, com a diminuição da tolerância nos relacionamentos, e situações que antes eram motivos de alegria deixam de ser prazerosas.
Quando nos damos conta, o cansaço extremo, a insônia e a falta ou aumento de apetite já fazem parte da nossa vida.
“O excesso de informações em um curto espaço de tempo e a urgência da resolução de problemas administrativos, financeiros, pessoais ou familiares podem contribuir para um cansaço que nem sempre vem do esforço do trabalho, mas do controle em se manter a todo custo a qualidade daquilo que é feito. Essa pressão gera sensações de impotência e insegurança, muito comuns em um cenário como este que estamos vivenciando”, explica Marinalva Gonçalves Requião, Psicóloga e especialista da Mental Clean.
Segundo um documento da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre os impactos da Covid-19, publicado em maio deste ano, “a saúde mental e o bem-estar de sociedades inteiras foram severamente afetados por essa crise e são prioridades que devem ser tratados com urgência”, diz o registro.
A Psicóloga da Mental Clean enfatiza que o próprio cenário de pandemia já torna por si só uma ameaça constante à vida e isso pode contribuir ainda mais para a piora de sentimentos negativos, lembrando que cada pessoa já enfrentava em maior ou menor grau alguma insatisfação ao longo da vida.
“Consequentemente há um aumento de ansiedade, pois uma das formas preventivas de lidar com essas situações poderiam ser os momentos de lazer e os encontros presencias que foram impossibilitados, gerando cansaço, fadiga, tristeza, desânimo e outros incômodos não perceptíveis”, pontua Marinalva.
Como a Neurociência pode ajudar a entender essa situação?
Cientificamente, à luz da Neurociência, podemos compreender melhor o porquê de nos sentirmos tão esgotados em momentos tão desafiantes. Essa área da ciência estuda o sistema nervoso, seu funcionamento e suas alterações, o que nos ajuda a desvendar nossas emoções e sensações.
“A pandemia chegou de repente e impôs mudanças de uma hora para outra, fazendo com que as pessoas desenvolvessem novos hábitos e comportamentos, sem que houvesse um preparo prévio para aprender novas habilidades, principalmente para lidar com situações de estresse, de incertezas e medos. A consequência disso foi o aumento de casos de ansiedade e depressão, cujos índices explodiram neste período”, explica a psicóloga da Mental Clean.
Nesse contexto, há muitos indivíduos que, por se sentirem exaustos, se abstraem de atitudes diárias importantes, como, por exemplo, no momento atual, tomar as precauções sanitárias de contágio à Covid-19, colocando-se em situações de risco.
“O cenário da pandemia só comprovou a dificuldade que temos para a adaptação a mudanças bruscas. As pessoas demoram um certo tempo para se conscientizarem de que precisam se adequar às normas vigentes”, pontua Marinalva.
Como é possível enfrentar esse estado emocional?
Segundo a psicóloga da Mental Clean, não existe uma regra específica para o enfrentamento de um estado de exaustão e esgotamento, pois cada indivíduo é único e reage de forma diferente a cada situação.
“O primeiro passo é a pessoa reconhecer que existe um problema. Começar a falar sobre esta percepção já é um caminho para identificar o que não está bem e principalmente compreender que o meio afeta em muito em nosso comportamento, seja ele emocional, psicológico, físico e interpessoal”, diz Marinalva.
Tão importante quanto os cuidados que dispensamos aos nossos familiares, é primordial voltar a atenção para o autocuidado, colocando em primeiro lugar a nossa própria Saúde Emocional. Precisamos estar bem conosco mesmos para depois cuidarmos dos nossos queridos.
“Quando nos dispomos a olhar de frente para os nossos sentimentos, começamos a perceber que a raiva, a tristeza, o medo, o desconforto, em uma certa medida, são sensações naturais que fazem parte da nossa vida e que precisamos aprender a gerenciá-las”, conclui.
Porém, quando nos perdemos em um emaranhado de sentimentos é necessária a ajuda de um psicoterapeuta, e esse olhar atento faz toda diferença!
O que fazer na prática para evitar uma situação de exaustão emocional?
Elaboramos algumas dicas de atividades que podem ajudar a aliviar a sensação de esgotamento e proporcionar mais bem-estar e qualidade de vida:
- Ao acordar, dê a si mesmo alguns minutos para despertar, isso contribui para uma conexão com o novo dia. Então, abra os olhos, espreguice e levante-se.
- Tome o seu café da manhã concentrado no seu momento. Em seguida, arrume-se, leia o seu jornal e somente depois de ter se dedicado a você, pegue o celular.
- Se está trabalhando em casa, procure fazer pausas de 10 min a cada 3 horas, faça um alongamento, respiração diafragmática e coma algo. Isso contribui para que não fique muito tempo em uma mesma posição, o que pode gerar dores lombares, inchaço nas pernas e desatenção.
- Respeite os horários da refeição. Fique atento ao que come, para que esse momento lhe ajude a comer por necessidade e não por impulsividade. Evite celular nesta hora.
- Durante a tarde, dê novamente uma pequena pausa de 10 min e utilize esse tempo para relaxar, alongar ou não fazer nada, simplesmente para ficar deitado seja na cama, no sofá ou até mesmo no chão.
- Ao finalizar seu trabalho, faça algo prazeroso, como ouvir música enquanto toma banho, ligar para alguém ou preparar algo gostoso para você comer.
- Ao se deitar, procure preparar o lugar onde você dorme com cuidado, ou seja, evite coisas que possam ser estimulantes e atrapalhar no seu sono. Evite TV no quarto ou ficar muito tempo ao celular.
- Na hora de dormir, desligue tudo e leve para sua cama apenas você, tente não antecipar o que acontecerá no dia seguinte, pois a sua jornada diária já foi cumprida e merece o descanso.
No outro dia, “desperte” novamente e tenha um bom dia!